Eu já jurei bandeira. - I've sworn flag.
Na minha infância, vivi o fim da ditadura militar, minha
escola era bem arrumada no interior do Paraná. Todos os dias, antes da aula,
ficávamos em formação no pátio da escola, como que cada classe fosse um
batalhão. Assistíamos o estiramento da bandeira, tocavam o hino da bandeira e o
hino nacional. Uma vez por mês jurávamos a bandeira. Neste clima de perfeição
fui forjando o grito de liberdade e me emancipei da escola padrão.
Quando completei 14 anos nada mais me segurava na escola,
presenciei a ascensão e queda do sistema de ensino no Brasil. Cada vez pior,
particular ou pública. Quando mudei para o estado de São Paulo, senti a
diferença drástica, pois as escolas pareciam presídios com seus inspetores com
as chaves dos corredores. Estudei em casa e fiz minha formação do segundo grau
de maneira livre e libertária, sim reconheço que não acertei tudo de primeiro,
mas aprendi a estudar e compreender a realidade que me cerca.
Quando completei 18 anos, fui me apresentar no serviço
militar, mas queria minha dispensa, todo jovem nessa idade fica aflito, ainda
mais cabeludo e metaleiro. Quando nos apresentamos ao posto de alistamento,
recebemos um Registro de Alistamento militar e o verso com espaços para
carimbos. Tinha que me apresentar várias vezes antes da dispensa, pelo menos
assim foi comigo. Cada vez que ia a uma convocação, preenchíamos questionários
e fazíamos exames, no meu RA chegou ser carimbado umas 14 vezes antes de ser
dispensado. Dizem que hoje é mais simples.
Na última convocação fui para um exame médico mais meticuloso.
Cem pessoas nuas num hospital de campanha montado numa garagem cheia de tanques
de guerra. Fomos organizados em grupos de dez, onde o médico fazia exame em
vários jovens ao mesmo tempo. Foi cômica a situação. Segurem seus paus para
cima – dizia o médico de patente alta e todos faziam na sincronia. Aperta.
Assopra. Bota pro lado, bota pro outro. Agacha. Agora todos vocês mostrem o cú
para mim. Gritou o patente alta. O engraçado é que todos se entre olharam
constrangidos, mas ninguém questiona nada, aí foi o Doutor passando na formação
de cú com a lanterna acesa iluminando todo mundo, alguns depois deste exame
foram separados. Parecíamos gado, sendo
separados e classificados. Dentistas faziam o exame e separavam os desdentados.
Realmente estavam fazendo uma triagem. Fui para o lugar chamado de paredão, bem
na frente da barbearia dos militares. Na hora que o barbeiro me viu, já foi pra
frente da barbearia mostrar a maquininha e dava risada. Eu engolia seco. Foi
quando surgiu um dos comandantes e separou o restante, fui para um grupo que
aguardava de pé, em formação, mas todos ainda apreensivos, não sabíamos se estávamos
dispensados. Quando deram dez horas da
manhã apareceu um militar dizendo que o grupo que ali aguardava estaria
dispensados depois de jurarem a bandeira e todos deveriam manter a formação (depois
descobri que teve intervenção de minha mãe, ela trabalhava no posto bancário
dentro do quartel militar e conversou com algum comandante).
A manhã se tornara longa, pois neste dia tivemos que nos
apresentar no canto matinal da alvorada. Estava com meus amigos que se
apresentaram junto comigo, alguns escolheram o alistamento e fizeram provas
para oficiais. Nunca mais os vi. No sol da manhã, matinha a formação como se
tivesse realmente defendendo a pátria, pois foi torturante esperar por mais
duas horas o pronunciamento do oficial e jurar a bandeira. Alguns desmaiaram,
outros fingiram passar mal para ficarem na sombra. Até hoje me lembro do
engraçadinho tirando sarro da gente (esse deve ter virado corrupto) que ficamos
em formação e juramos a pátria. Enfrentei a missão de ficar com sede, fome,
cansaço e inúmeros fatores que na minha adolescência me jogaria no chão e me
faria procurar a sombra, mas olhava a bandeira tremulante no mastro e me
mantinha de peito estufado repetindo o juramento da bandeira.
“Dispensado da prestação do Serviço Militar inicial, por força de disposições legais e consciente dos deveres que a Constituição impõe a todos os brasileiros, para com a defesa nacional, prometo estar sempre pronto a cumprir com as minhas obrigações militares, inclusive a de atender a convocações de emergência e, na esfera das minhas atribuições, a dedicar-me inteiramente aos interesses da Pátria, cuja honra, integridade e instituições defenderei, com o sacrifício da própria vida.”
“Dispensado da prestação do Serviço Militar inicial, por força de disposições legais e consciente dos deveres que a Constituição impõe a todos os brasileiros, para com a defesa nacional, prometo estar sempre pronto a cumprir com as minhas obrigações militares, inclusive a de atender a convocações de emergência e, na esfera das minhas atribuições, a dedicar-me inteiramente aos interesses da Pátria, cuja honra, integridade e instituições defenderei, com o sacrifício da própria vida.”
— Artigo 217 do
Decreto nº 57.654, de 20 de janeiro de 1966.
Aquela cerimônia mesmo aparentando uma banalidade para
alguns, me fez sentir a necessidade de unidade e como ela pode construir ou
destruir sonhos. Mais tarde voltando para casa, queimado de sol, passei o
restante do dia contando para as meninas, como fui valente enfrentando o sol
para jurar a bandeira.
I've sworn flag.
In my childhood, I lived the end of the military dictatorship, my school was neat inside the Paraná. Every day before school, we were in formation in the schoolyard, as each class was a battalion. Watched the stretch of the flag, the anthem played flag and national anthem. Once a month jurávamos the flag. In this climate of perfection was forging the cry of freedom and I emancipated standard school.
When I turned 14 years nothing was holding me in school, I witnessed the rise and fall of the education system in Brazil. Worse, private or public. When I moved to the state of São Paulo, I felt a drastic difference because the schools seemed prisons with their inspectors with key corridors. I studied at home and did my training high school freely and libertarian, but I recognize that not all hit first, but I learned to study and understand the reality that surrounds me.
When I turned 18, I was present myself in the military, but wanted my discharge, every young man that age is afflicted, and even more hairy metalhead. When we presented the enlistment station, received a military registration and enlistment verse with spaces for stamps. Had to introduce myself several times before the waiver, at least that was me. Each time I went to a call, preenchíamos quizzes and exams did in my RA came to be stamped each 14 times before being dispensed. They say today is simpler.
In the last call went for a more thorough medical examination. Hundred naked people in a field hospital set up in a garage full of tanks. We were organized into groups of ten, where the doctor had to take several young simultaneously. It was a comical situation. Hold your sticks up - the doctor said patent high and all were in sync. Tightens. Blow. Boot aside, boot to the other. Crouch. Now all of you show your ass for me. Cried the high rank. The funny thing is that among all looked embarrassed, but no one questions anything, there was the Doctor going in training ass with lighted lantern illuminating everyone, some after this examination were separated. Seemed cattle are separated and classified. Dental examination and were separated toothless. Were actually doing triage. I went to the place called the wall, right in front of the barbershop of the military. By the time I saw the barber, has been to show the front of the barbershop POS and gave laugh. I swallowed dry. That's when one of the commanders came and separated the rest, went to a group that waited standing in formation, but everyone still apprehensive, do not know if we were dismissed. When they gave ten o'clock came the military saying that the group that there would be exempted awaited after the flag and swear everyone should keep training (later found to have been involved my mother, she worked at the bank inside the military barracks and talked with some commander).
The morning became long because on this day we had to introduce ourselves in the corner of the morning dawn. I was with my friends who performed with me, some chose enlistment and did tests for officers. Never saw them again. In the morning sun, Matinha training as if he had actually defending the homeland, because it was agonizing wait for another two hours of the official announcement and pledge the flag. Some fainted, others pretended to be sick to stay in the shade. To this day I remember the joker making fun of people (this should have turned corrupt) who stayed in training and we vow homeland. Faced the task of getting thirsty, hungry, tired and numerous factors that in my teens I would play on the floor and I would seek the shade, but watched the flag fluttering on the mast and kept me from repeating the oath chested flag.
"Discharged from Military Service Initial provision, by virtue of the law and aware of the duties that the Constitution requires all Brazilians, for national defense, I promise to always be ready to fulfill my military duties, including answering the emergency calls and, in the sphere of my duties, to devote myself entirely to the interests of the country, whose honor, integrity and defend institutions, with the sacrifice of life itself. "
- Article 217 of Decree No. 57,654, of January 20, 1966.
That ceremony even seeming banal to some, made me feel the need for unity and how it can make or break dreams. Later returning home, sunburned, I spent the rest of the day telling the girls how brave I was facing the sun to swear the flag.
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