No meio da mata pega sinal de internet melhor que no centro
da cidade, coisas que você só encontra em Manaus.
Preparei-me para um ritual guarani, mas infelizmente, meu
estado físico de limitação momentânea me impede de continuar, fiz o primeiro
dia. Pois os ritos verdadeiros são longos, exaustivos e envolvem toda expressão
cultural através da dança, completamente diferente do que é encenado para os
turistas. As ervas fortes e potentes, utilizadas na purificação do indivíduo,
eleva o estado psíquico e nos transporta para outro nível de consciência. O
respeito é mutuo, todos cordiais dentro da oca, o pajé conduz a cerimonia que
ocorre ao mesmo tempo em diversas cidades da América indígena. O fim de uma era
e exatamente hoje é o dia fora do tempo, o dia que não existe, o numero zero, o
nada...
Todos que entraram na oca hoje sairão somente amanhã para a
nova era.
O pouco que participei do primeiro dia de rito foi muito significativos
para mim, fez me enxergar a necessidade de nos aproximarmos em busca de um
equilíbrio, o respeito entre as culturas é a essência significativa para união
dos povos, por um mundo sem fronteiras, onde o amor possa inundar o coração da
humanidade. Os cânticos são uma profusão de poesia e significância que atinge o
que muitos dizem ser a nossa alma.
...O meu corpo é a terra,
O meu sangue é a água,
O vento é minha razão,
O fogo é meu coração...
O ritual ocorre ao redor de uma fogueira. O fogo, servir o
fumo e o mate é responsabilidade das mulheres que também participam do rito, ao
se movimentar na oca todos devem se conduzir no sentido anti-horário. As ervas
utilizadas no cachimbo é extremamente forte, a saliva que às vezes escorre pela
garganta fica na cor do tabaco. Inalei o paricá como se fosse um pó vagabundo
qualquer, no mesmo instante que entrou na cavidade nasal senti uma explosão, um
rapé forte e concentrado desentope repentinamente as vias respiratórias, fez me
lacrimar profundamente e dar o devido respeito às culturas ameríndias. O chá
caapi, servido numa cuia, trava a garganta e provoca certo desconforto num
primeiro momento, mas aos poucos recobro para uma nova sensação, o suor escorre
e a iluminação da fogueira muda, as coisas explodem de dentro do fogo, cantamos
em harmonia, tocamos instrumentos de percussão e cantamos até o encerramento.
Todos recebem o bastão da palavra no inicio e final do ritual, todos falam e
diz o que sentem, alguns declamam poesias, cantam, agradecem e passam suas mensagens,
ninguém tem pressa. Todos até a exaustão dormem com os pés virados para a
fogueira, o vento gelado da floresta passa pelo corpo encontrando a cabeça em
direção ao fogo, a fumaça sobe para o alto da oca e se dissipa.
Para mim agora me resta descansar no espaço Arumã.
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