Era noite e o culpado não conseguia dormir.

Região norte na madrugada mais quente registrada até aquele momento para as condições do tempo, um clima anormal e perturbador. Era como se fosse o silêncio da praia antes do maremoto. Poucos conseguiam refletir de maneira coesa o significado da física, então era muito mais fácil para ele acreditar na ficção, do que nos fatos que rodavam a sua frente. Passou despercebido entre a multidão, apesar de toda loucura instaurada em sua cabeça, castigada pelo cansaço num profundo estresse laboral. Levantou de sua cama e sentou se ante a escrivaninha do quarto, ligou o monitor para ter certeza se tudo não era um sonho ou pesadelo. Verificou que as ações continuavam a cair, mas manteve se firme, como um capitão afundando com o navio. Não queria entrar em pânico e perder tudo que tinha. Resolveu fumar um cigarro de filtro azul, foi pra varanda e observou o rio. Imaginando se em tal cenário, teve ligeira vontade de sair. De pijamas foi para areia da praia. Um grupo que já estava na beira há mais tempo, conversavam em voz alta e com muita alegria brincavam pulando no pó das pedras, corriam gritando e gargalhando, antes que os banzeiros viessem alcançar seus pés já molhados. Era um grupo familiar, amigos de longa data. Todos compartilhavam a insônia na frente de seus condomínios, alguns até o sol raiar. Aproximou se de todos saldando os amigos com aperto de mão e as amigas com um abraço e dois delicados estalidos em suas bochechas. Falaram muitas bobagens após alguns tragos naqueles cigarros e nas vodkas vagabundas. Todos esqueceram de tudo para se dedicarem à diversão. Fizeram a festa ali mesmo, com seus mp3 bancavam uma de DJs. Mirian de sorriso encantador deixava sua noite muito mais agradável. Ela sabia disso, e o torturava todas as noites, mas ao invés de sofrer, ele adorava aquela brincadeira que confundia a mente de qualquer mortal. Mirian namorava outros, mas nunca deixava de abusar sensualmente de sua pequena presa. Ele repetia para si que pelo menos tinha o prazer de sempre tela a seu lado, enquanto os ex-namorados eram sempre esquecidos e abandonados do convívio. Ritinha era doida por ele, fazia qualquer coisa, ele a tinha na mão bem quando a quisesse. Mas não tinha interesse. Gostava mesmo é de apanhar. Levar tapa na cara. Ritinha era muito recatada, não transava que nem uma puta. Na verdade Ritinha o tinha colocado no altar, ela sabia ser puta, mas ficava travada na frente de seu amor, era quase uma boneca morta. Sacana como sempre imaginou que poderia ter as duas. Mas naquela manhã acordou na areia da praia abraçado com a garrafa e com a boca cheia de areia. O sol fustigava sua face. Dormiu como um bebê, levantou e foi comer uma tapioca na beira da calçada.
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