O vôo.
Durante o dia, mais quente que o anterior, as pessoas falavam da mesma coisa, os jornais publicaram iguais à mesma noticia e foto de capa. A tv não se mostrou indiferente ao fato do homem turbina voar pelo ar. Todos olhavam para cima esperando a passagem do homem turbina. Mas ao invés disso, seguiram todos com os olhos atônitos, fixos na figura surreal que voava pelos ares. Todos se perguntavam o que era? O menino com famosa revistinha colorida se perguntava se era a figura do Super-Homem voando, mas que esqueceu de tirar o disfarce de Clark. A mulher tesa se questionava como seria uma boa trepada com o cara voador. Todos se imaginavam interagido com o “Executivo Alado”. A senhora que gosta de gritar na parada de ônibus segurando uma bíblia na mão, tinha a plena convicção que, a exótica figura voadora era um pastor iluminado pela fortuna divina de seu dizimo. Enquanto isso, ele ignorava a multidão, só tentava entender melhor toda aquela situação. Acreditou que talvez inconscientemente tenha descoberto algum segredo da física quântica. O percurso imaginado ele poderia fazer mantendo se concentrado no que realmente estava executando. Tinha certa convicção de que, sem concentração morreria naquela situação. O momento o deixou mais tenso. Viu a poucos metros os fios de alta tensão. Parou a centímetros, pensou que poderia tocar. No exato momento em que esticava as duas mãos para segura os cabos, por sorte nosso possível pastel voador, foi salvo por um apagão da centrar de força. Mas ao invés de salva-lo de um fim trágico, só adiou o breve momento agravando mais ainda o triste fim desta pálida figura. Acreditando que seu toque havia gerado aquela pane no sistema de luz, jurou para si mesmo que nunca mais faria aquilo novamente, somente em caso de grave ameaça, pois a conseqüência de um black-out era desgastante para a coletividade. Imaginava que somente pelo fato de voar teria outros poderes também. Mas ficou cauteloso e resolveu procurar um tempo para testar as habilidades recém adquiridas. Lembrou de sua agenda e retornou ao escritório para busca-la. Quando voltou, viu todos parados a sua espera. Uma breve coleção de faces congeladas, todos tentavam encontrar certa explicação para o que seus olhos desvendavam. Sua secretaria ficou muito assustada, ela tinha um certo amor platônico pelo seu chefe, mas o executivo vestia uma armadura robótica em seu coração e pouco notava a presença palpitar das belas pernas magras e esguias, que sustentavam um copo tenro, pulsante, vivo, cheio de energia e libido. Com muita luz preferiu assim eclipsar os seus olhares debaixo das lentes escuras de uns óculos que parecia ter sido feito sobre encomenda a ela, mas que comprou no comercio popular num impulso de brincadeira. Também tinha mania de espiar entre as colunas, mantendo-se assim segura, longe de seu amor. Já o gerente mais próximo aguardava uma resposta. O executivo preferiu se calar. Questionado com o que todos deveriam fazer, permaneceu mudo. Os subalternos ficaram perdidos, ninguém mais saberia o que fazer sem nenhuma ordem. Desesperados, pediram ao executivo para que ele não os abandonassem, argumentaram que se fosse, a empresa possivelmente faliria, pois ninguém havia se preparado para aquela situação. Ele simplesmente continuou o seu caminho, sem muito se importar com o seu destino. Alheio ao que o dia do amanhã poderia lhe reservar. Após gritos de desespero o executivo deu a liberdade a todos numa só frase: “Vocês estão livres!” E continuou a voar pelo céu. Naquele mesmo dia, diversos executivos jogaram se das janelas, mas nenhum outro conseguiu voar.
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